Angropofagia século 21

Antropofagicamente, assimilei um acontecimento recente e fiz um blog, um nikki (日記) - diário em japonês - pós-moderno de fatos, farsas, ficção, relatados através dos meus textos ficcionais. Nele, apresento textos antigos já publicados em alguma mídia, observações sobre o cotidiano, textos atuais e tudo o mais que surgir. bjos a todos que passarem por aqui.

Alterei minhas postagens iniciais porque a nova mídia ainda me faz questionar conceitos como título (de postagem ou do próprio texto?), gênero (o gênero se altera pela mudança de suporte?) e a descoberta da imagem como recurso narrativo.

Por favor, comentem o resultado, talvez provisório e os textos em si.

Aos poucos, a meta é que a linguagem deste blog amadureça, como uma eterna e instigante construção.

domingo, 11 de dezembro de 2016

E ruiu mais uma...

Conviver com pessoas de diversas áreas, níveis sócio-culturais, escolaridades diversas, faz com que certas pressuposições caiam por terra. Hoje mesmo, mais uma ruiu. Estava eu tranqüilamente elaborando uma ficha de avaliação, com a minha pouca familiaridade em lidar com tabelas e coisas do tipo, quando veio a pergunta: ‘Endereço’ é com ‘ç’? Pensei ter ouvido mal, cansada como estava, depois de uma semana ininterrupta de provas, mas não, a pergunta se repetiu: Endereço se escreve com ‘ç’ ou ‘ss’? Meu queixo permaneceu estatelado bem fundo no chão por umas longas frações de segundto, antes de eu poder, desconcertada, responder: Com ‘ç’...
                
E essa indagação feita justamente a uma aluna de Letras, que sempre achou que o conhecimento básico da língua mãe era ato de civilidade, uma questão crucial para todo brasileiro, principalmente nesse caso particular, uma moça de nível universitário, cursando faculdade. De Farmácia, não que isso seja a questão.

O que importa é que ela não tinha qualquer constrangimento em não saber algo tão elementar e óbvio, pensava eu, até aquele momento. Não para ela, que achava ser bastante natural essa dúvida, tanto que não se sentiu desconcertada nem ao saber que curso eu fazia.

Eu apenas me surpreendo por essa jovem não ter nem memória visual de tanto responder às fichas de cadastro: de loja, de biblioteca, de emprego, e tantas outras, poderia ter gravado a maneira como se soletra palavra tão primária.

Pelo curso que faço, tenho sido consultada por diversas pessoas, para uma revisão informal de seus textos. E, igualmente, tenho amedrontado outros tantos estudantes de outros cursos, que relutam em me mostrar seus escritos, por imaginarem que eu iria procurar apenas os erros de Português, e não me interessar pelo tema ou sentido do que estava no papel.


Vendo as pessoas em seu uso diário e cotidiano da língua, vejo cada um dos postulados que aprendo em língua portuguesa sendo quebrados. Em uma matéria, dizia-se que quando uma pessoa corta o ‘s’ de plural de um conjunto como ‘os ovos’, isso se dá no segundo ‘s’, resultando em ‘os ovo’. Bem, muito antes de iniciar a faculdade, desde meus 15 anos, mais de duas décadas atrás, ouço o pregão do carro ‘do ovos[1]’ a plenos pulmões, vendendo seu produto pelas ruas do meu bairro, o Jardim das Américas. Na época, achava aquele erro apenas irritante, sem saber que se tratava de uma questão a se investigar, por ser inusitada. Uma exceção à regra de subtração de marca de plural.

Possivelmente, o apregoador quis enfatizar seu produto, ao colocar o ‘s’ justamente em ovos, em vez de no artigo. 

A criatividade dos falantes nativos não pode ser subestimada, para cada regra, irá haver muito provavelmente alguém disposto a quebrá-la, embora não conscientemente, é claro. Outro exemplo foi uma estrutura (que não lembro qual era...) que o professor dizia que não seria usada por um falante nativo, porque ia tão contra a estrutura do Português que nenhum falante nativo a usaria. Bem, independente de qual tenha sido a construção frasal, uma zeladora do local em que eu estagiava usou exatamente a mesma estrutura exemplificada em aula naquela mesma semana...
Por este motivo, eu sempre uso um "em geral", ou "na maioria das vezes" antes de fazer alguma afirmação categórica o bastante para ser contestada pela infinita criatividade do falante nativo não-conhecedor da língua materna!    





[1] Como este texto foi escrito quando eu ainda cursava a graduação de Letras há uns bons anos atrás, esta investigação se tornou impossível, porque o carro ‘do ovos’ não passa mais por aqui. Outro carro sem a tal subtração de marca de plural o substituiu e, por sinal, sou cliente dele. Do outro, não era...

#subtraçãodemarcadeplural

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